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3.2 Como proteger do Sol os olhos das crianças?

A Fonte mais abundante de radiação óptica para os olhos das crianças é o sol1

O sol emite um amplo espectro de radiação electromagnética. A radiação óptica, a porção capaz de penetrar o ozono e atingir a superfície da Terra, é composta por radiação ultravioleta (9%), radiação visível (50 %) e radiação infravermelha (40%).

No espectro ultravioleta (UV) apenas a radiação UVB (280 - 320 nm) e UVA (320 – 400nm) atingem a superfície da Terra, preponderando a radiação UVA (95%) sobre a UVB (5%). As fontes de UVC não ocorrem na Natureza, sendo produzidas pelo Homem (ex.: arco de soldadura)2.

A exposição ambiental dos olhos aos raios UV é complexa e depende do ângulo solar, das condições atmosféricas e da reflectividade das superfícies. O conteúdo de radiação UV varia consoante a hora do dia, a localização geográfica e a reflectividade do meio. A reflectividade é extremamente elevada na neve (94 - 80%), sendo mais baixa no mar aberto (20%) e na areia (10%) ou na relva (9%). Ao nível do solo o valor é de 1%.

A proximidade do equador e altitude são outros factores que fazem aumentar a reflectividade dos raios solares2. Devido às suas características físicas, estes raios não participam no espectro da luz visível, mas podem ser responsáveis por patologia.

Na pele a radiação UV pode provocar o bronzeamento (UV-A), queimadura ou mesmo predisposição para neoplasia em exposições repetidas (UV-B).

Nos olhos podem provocar patologia aguda (fotoqueratite, fotoretinite) ou predisposição para patologia degenerativa.

Considera-se que a radiação solar (não apenas na área dos UV) contribui para o desenvolvimento de patologia relacionada com o envelhecimento ocular e que ocorre no adulto ou idoso – predominantemente catarata e doença degenerativa da retina. É também responsável pelo desenvolvimento de patologia degenerativa da conjuntiva e córnea.

Os olhos encontram-se naturalmente protegidos da radiação UV recebendo apenas uma pequena fracção de UV do ambiente sob circunstâncias normais. Assim, a arcada óssea supraciliar, e as pálpebras, reduzem a entrada de radiação.

O encerramento palpebral e a variação do diâmetro da pupila são mecanismos de adicionais de redução3. As estruturas do segmento anterior absorvem uma parte radiação UV. A retina encontra-se largamente protegida dos raios UV pelo segmento anterior.

A conjuntiva e a córnea bloqueiam a transmissão da radiação inferior a 300nm.

O cristalino adulto bloqueia a radiação entre os 300 e os 400nm. Este efeito começa aos 20 anos e vai aumentando linearmente até aos 30 anos.

Na criança e no adulto jovem, devido ao diferente teor proteico do cristalino, parece haver janela numa banda estreita em que os raios UV em redor 320-330 nm o penetram e atingem a retina.

O seu impacto clinico é desconhecido, embora experimentalmente esta maior susceptibilidade esteja associada à presença de lipofuscina que proporcionalmente tem grande aumento nas 2 primeiras décadas de vida1, 2.

 

Como Proteger os olhos das crianças do sol? 

Evitar a exposição directa ao sol quando a radiação ambiente é mais elevada, como entre as 11 e as 15 horas, nos dias de Verão ou onde houver maior radiação.

Proporcionar uma boa sombra sobre a face com chapéu ou boné de abas largas.

Utilizar óculos de sol quando a reflectividade for elevada.

Proteger a pele periorbitária.

Instruir a criança sobre os cuidados que deve ter, em especial no caso do eclipse solar.

 

Em que situações é obrigatória a utilização de óculos de sol? 

Quando houver exposição a níveis elevados de radiação UV – neve, gelo e elevadas altitudes (na montanha).

Quando a criança tem patologia ocular - afaquia, aniridia, albinismo ou com outra patologia retiniana (retinose pigmentar, maculopatia) ou faz medicação que a torne fotossensível.

 

Como devem ser os óculos?

É importante informar os pais que óculos com lentes escuras não é sinónimo de protecção ocular, as lentes devem ter qualidade e a armação deve ser protectora.

No conjunto, armação e lentes, devem estar de acordo com a norma EN ISO 12312-2:2015 o que se encontra atestado pelo fabricante com a sigla CE, significando que obedeceu às normas5.

 

Qualidade das lentes:

As lentes devem ter filtro UV próximo dos 100%, qualquer que seja a sua coloração.

Devem ter boa qualidade óptica (sem distorção) e nunca devem estar riscadas ou com falhas. Devem transmitir apenas a radiação visível, bloqueando toda a radiação UV em qualquer direcção.

Nas crianças com fotofobia por patologia os filtros coloridos menos intensos podem ser mais adequados.

 

Formato e controlo:

A armação deve proteger ao máximo da radiação directa e reflectida, ou seja, deve ser envolvente de modo a impedir a entrada de raios solares não só pela frente, mas também por baixo, por cima e pelos lados – um bom exemplo são os óculos de neve ou de piscina.

O contorno dos óculos deve estar sempre em contacto com a pele, tanto à frente com de lado.

Se necessário uma fita elástica facilita o posicionamento.

 

Recomendações:

- A utilização de chapéu ou boné de abas largas é eficaz e protectora, permitindo ainda que a criança perceba melhor a hostilidade do ambiente ao ter a noção correcta da luminosidade, e naturalmente se proteja da exposição solar. Protege ainda a face da radiação.

- As lentes escuras tornam a percepção do meio ambiente como mais escuro. Quando a marcha não é muito firme podem interferir com a percepção do espaço e a navegação.

- A utilização de chapéu e óculos pode ser aditiva.

- Além de se promover uma boa sombra, deve-se evitar a exposição solar quando a presença de UV no meio é elevada.

Autore(s)

Oftalmologia Pediátrica, Centro Hospital de Lisboa. Lisboa, Portugal

(Direção de Serviço: Miguel Trigo)

Oftalmologia Pediátrica, Centro Hospitalar de Lisboa Central. Lisboa, Portugal

(Direção de Serviço: Miguel Trigo)